Caro(a) Leitor(a),
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Os
gregos antigos possuíam um conceito muito interessante sobre o ato de
florescer. Eles não diziam que a flor estava para desabrochar ou que já
havia desabrochado, eles diziam que as flores estavam em um estado
contínuo de florescimento, ou seja, a flor não é o que vemos naquele
momento singular, mas sim o movimento lento, constante de mudança que
não para jamais, até ela se desfazer e surgir uma nova flor. Só
conseguimos perceber este estado de florescer contínuo se olharmos para a
totalidade da existência e não para o curto espaço de tempo, olhando
apenas de relance.
Este
mesmo conceito, eles aplicavam ao ser humano. Dizendo que o homem não é
o que se vê num determinado instante ou relâmpago de tempo, mas sim na
continuidade do movimento ou mudança que este ser sofre ao longo de sua
vida e caminhada. O homem não é um ponto na história, mas a história
completa.
Volta
e meia me pego lendo coisas antigas que escrevi ou lembro de outras que
falei e percebo em mim mesmo este processo, não o de uma mudança
simples de opinião, mas de aperfeiçoamento de pensamentos e (re)leitura
de fatos e acontecimentos passados, agora com os olhos mais aguçados e
refinados pelos aprendizados mais recentes.
Arrependo-me
constantemente de muitas coisas que disse ou fiz antes por pura
imaturidade e falta de conhecimento, entretanto, muitas outras crenças e
opiniões vão se moldando/solidificando no meu ser e espírito. Elas vêm
das novas experiências, dores e alegrias que vão formando pouco a pouco o
que sou (ou o que estou me tornando). Ganho, então, proporções não de
uma frágil flor do campo, mas de um jacarandá, um cedro plantado e
firmado na Rocha dos Séculos.
O apóstolo Paulo, no Novo Testamento, descreve este modelo de crescimento e aperfeiçoamento no entendimento dizendo assim: "Quando
eu era menino, falava como menino, sentia como menino, falava como
menino, mas, logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de
menino. Porque agora vemos por espelho em enigma, mas então o veremos
face a face; agora conheço em parte, mas então o conhecerei como também
sou conhecido."
Pedras
não vivem, apenas existem, não têm alma, são imutáveis, insensíveis,
não sentem frio, fome ou dor. Pedras não amam, são duras, não demonstram
sofrimento, só carregam as marcas do tempo. Talvez por isso muita
gente, com medo da dor e do medo da mudança, se transforme numa flor
esquizofrênica que pensa que é pedra. É a fragilidade endurecida e
emburrecida. Já não amam, não se abrem para novas perspectivas da vida,
não se entregam ao metamorfosiar da mente e seus riscos.
Nós
não somos pedras, somos flores, árvores, seres em constante mudança.
Mudamos no tempo, mudamos na forma de nos comunicar, mudamos ângulos de
visões que nos fazem ver melhor questões mais complexas da nossa vida e à
nossa volta.
Uma
flor se transformar em pedra para evitar riscos e dores não é o caminho
natural, mas o jeito de fossilizar a existência na amargura de querer
ser o que não se pode ser.
E,
existe cura para flores que "empedreceram" a alma? Sim! Ninguém é o
resultado final de coisa alguma. As dores de ontem
transformaram/prepararam meu ser para o meu hoje, para o meu agora. Da
mesma forma as dores e alegrias do meu hoje, o que estou aprendendo
agora, estão construindo/formando o meu ser de amanhã. Então, posso
abandonar hoje o que me transformou em pedra ontem. Posso abandonar as
lembranças que me aprisionam agora e prosseguir para um novo alvo. Este
soltar diário das amarras do passado me ensina muito e positivamente
para construir, não um novo "eu", mas um "eu" que viverá o amanhã
diferente de como vivo hoje. É claro que eu não sei que novos desafios
vou enfrentar amanhã, mas o que aprendi até aqui vai enchendo meu ser de
coragem e confiança para continuar mudando meu jeito de encarar minha
vida.
Não
sou transformado/mudado do nada para lugar nenhum, tenho consciência de
quem e o que estou sendo. Sei onde estive e tento entender onde estou.
Olho para minha história até aqui e aprendo com ela quantas vezes for
preciso. Meus erros e acertos têm nome, espaço e tempo na linha da minha
vida. Olho meus monstros de frente, sem deixar de contemplar meus
horizontes, minha esperança.
Não
encontro esta força ou poder para mudar sozinho, ninguém consegue mudar
sozinho. Descanso e confio simplesmente Naquele que criou todas as
coisas, plantou jardins, pintou criativamente cada pétala de flor deste
mundo, salpicou de vida todo o universo. Ele é a fonte do poder para
criar, construir e reconstruir um novo ser em mim. Aquele que criou as
pedras sabe também fazer germinar vida, ainda que este meu ser tenha
morrido e fossilizado. Ele tem o poder até mesmo de transformar almas
pedradas em belos jardins. Ele é o que promete, através da boca do
profeta Ezequiel, dizendo assim: "E dar-vos-ei um coração novo, e
porei dentro de vós um espírito novo; e tirarei da vossa carne o coração
de pedra, e vos darei um coração de carne".
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